Um desejo veio se esconder aqui no meio de minhas coisas esquecidas. E não demorou para que eu o percebesse: tinha cor, cheiro e ruído próprio. A princípio, antes de notar suas características organolépticas, pensei se tratar de uma brincadeira do tempo, pois a muito tempo o passado não me confundia (acho que esse desejo é passado e deveria ser passageiro). Eu o deixei no seu devido lugar, mantive a calma, umas das poucas virtudes que consegui conservar e perceber. Logo me predispus a tirar tudo a limpo. Comecei a pôr a mão naquelas coisas que eu tinha como esquecidas a fim de espantar o fantasma da dúvida e combater o desejo. Mas duvidei que aquilo surtisse efeito, pois o desejo é implacável, imperecível, eterno: não morre, no máximo se camufla.
Salatiel Pereira
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