domingo, 8 de dezembro de 2019

Minha Porto seguro!!


Senhora de senhores

Quem dera fosse apenas um Porto ou um cais. Mas é Ela. Senhora de si, senhora de senhores, uma tirana, uma dominante, a predadora de meus dias restantes nessa Terra. É Ela, eu sei, que cadencia meu itinerário com a minha total anuência. Ou melhor, total sujeição? Quem sou eu para não me submeter? Tudo é Dela, por Ela e para Ela.
Falta-me repertório (confesso), chão, ar e coragem para ir além dos “bom dias”, das saudações matinais, das gentilezas triviais na vida dos homens comuns, dos cumprimentos de ordens, e sobretudo dos “sim, senhoras”. Realmente falta-me muito (tudo) para ir muito além do recato e flertar com uma íntima insurreição. Como eu queria ter força para tanto!
Encontro refúgio certo (fuga) em prudências no intuito de manter intactas as possibilidades, as quais julgo procedentes embora distantes. São coisas que alimento com esperança fraca, quase um delírio de uma prece absurda. Sua frieza é a causa da absurdidade digna de Camus.
É assim que tem se dado os meus “dias de cada vez”, tendo que escalar indiferenças, tornando-me um perene buscante, um miserável que crê, espera e se fia nisso. Nisso o que? Não há no que crer.
Mas, deixa que eu busque sua face em face do que me tem acontecido. Pois, a despeito do preço necessário (?) a se pagar (sofrer), do perigo que corro em ser eu, simplesmente eu, quero-lhe. Quero-lhe Senhora. Quero-lhe, Senhora. Quero-lhe, sim, Senhora. Não sei se terá validade esse desejo, ou se durará tempo bastante para ser elevado à condição de eterno. O certo, por agora, é que Ela continua                                                                                                                                                                    
Ela e Dela, devastando-me por inteiro, sangrando-me por inteiro, divergindo-me por inteiro, desinteirando-me por inteiro.
Seu respirar são zombarias para quem (eu) ainda acha possível tocar o horizonte. Ela caçoa de minha fé medíocre, cuja força não faz frente nem a grãos de areia, quem dirá montanhas.
Contudo, aferro-me a virtudes. Ou melhor, à minha mais clara e obstinada virtude, a saber, a perseverança. Perseverança à prova de posse, o túmulo do desejo. Perseverança à prova de ausência, morte a conta gotas (angústia) de quem espera.

Escrevente atado!


Confissões aleatórias

Buscando ser amado fiz-me vil,
Amando mais a busca do que a vida,
Mergulhando em vexames mil sem me cansar.
Muitas vezes deixei de mão alentos,
Abrindo mão de mim,
Entregando os pontos ao acaso,
Dando-me por vencido.
Jamais em meus mais tristes prognósticos
Imaginei chegar a tal estágio,
Lançando mão de migalhas,
Disputando restos de atenção,
Puro resíduo.
Cuido que a solução esteja em “remédios amargos”
Frente ao meu projeto fracassado de imortalidade:
Julgo ser um fracasso por inteiro.
Sim...
As tendências suicidas vêm de vez,
Pondo em dúvida minha lucidez,
Pensando e querendo morte,
Mas ganhando mais tempo de angústia.
Vivendo mais para doer mais,
Chorar mais e diminuir-me mais.

AfaSTaMenTo!


Tudo que faço

Tudo que faço é para me livrar.
Livrar-me de dor que decorre de vestígios pretéritos;
Livrar-me de cismas (estranhamentos),
Frente aos “tudos” que faltam ou que estão a sobejar.

Tudo que faço é para lidar com medos;
Da morte, de mim, do que aconteceu e do que não;
Sem querer, me autossabotar e velar minha contradição,
Para “vigiar e punir” lançando mão de degredos.


Tudo que faço é escolher
Para errar e acertar, viver e morrer;
Continuar enquanto puder me expor

A riscos necessários e vãos,
Para aprender perder e então ganhar
Mais de uma chance (em muitas) nas mãos.


Efeito retardado

Eu sei e reconheço que sou um suicida em potencial,
Uma bomba de efeito retardado,
Uma oração repetida não atendida.
Às vezes desejo um surto...
Sim, quero surtar, pois cuido que isso seja meu botão de reset.
Os dias não estão flor que se cheire,
Uma vez que algumas coisas não cheiram nada bem,
Não caem bem, não me fazem bem;
Não soam bem.


Saída de emergência (Eu lobo de mim mesmo da estepe)

Atirei flores como quem se despede de quem morre.
Fiz uma oração com muito empenho
A fim de ser levado a sério (por Deus),
E receber ao menos consolo.
Planejei prazeres infindos
Outrora adiados a contragosto e duras penas,
Para de uma vez por todas continuar...
...viver histórias dignas de mim, sutilmente machadianas.
Já quis a paz dos livros, eternamente inalcançável (desejável),
E sempre um chamariz para corações cheios de afã.
Chamei o fim do dia, esquecendo-me que estaria antecipando meu fim;
Anunciando um suicídio, minha saída de emergência,
Uma porta rumo a pastagens, paisagens calmas,
Uma fuga certa, covarde e ilegítima (sei).
Sim, uma fuga injusta comigo,
Com as infindáveis possibilidades que saltam aos olhos.


Erro invencível

Por ora já basta; minha cota de dores foi preenchida,
Ao viver (sofrer) dores de amor
Por erros de calculo em toda a vida;
A qual um dia esteve inteira, em meu coração penhor.

O que experienciei até aqui tem lá sua valia,
Cujo alcance e largura jamais previ.
No futuro, longe de mim, um dia
Talvez saiba o que de mim fiz e vivi.

Estar no controle é porto seguro,
O qual almejo tal qual ar em dias de asfixia
Indo de mim alento quanto mais procuro.

Sei lá o que parece ser!
O certo é que minha certeza é por demais erradia
Para esperar tanto, indiferente a um padecer



Eu sempre Aqui!!


Doses Racionadas de Amor

Ela sempre desejou “a servidão dos fracos e a proteção dos fortes”.
Sim! minha bajulação é seu sonho de consumo,
Sua torre forte que lhe faz forte.
Meu coração apaixonado é um brinquedo desmontável em suas mãos,
Ferramentas hábeis, adestradas e afeitas a atrocidades.
Eu me alimento das doses racionadas de “amor” que me dá:
Sorrisos reticentes, migalhas de atenção, e rascunhos de beijos.
Tudo isso me garante escravo por tempo indeterminado,
Sonhando com céu por temer o inferno (o fim do casamento),
Fazendo-me fiel a um deus (deusa) e infiel a mim.
Ah...é isso!Meu amor é uma auto traição.
...que tragédia: simultaneamente, traído e traidor.
E ela, sem a misericórdia comum aos deuses que se prezam,
Debocha de mim, caçoa da minha condição degradante,
Diverte-se às minhas custas:
Todo dia pago o tributo que lhe é devido;
Pago o preço sem se quer saber o valor (de viver assim).
Sou um servo emocional de uma senhora má,
Que também é senhora de si (parece),
Que é tão determinante para minha alegria com sinal trocado,
O prelúdio de uma felicidade ilusória,
O qual aponta para “o futuro de uma ilusão”.
É ilusão (vestígio de razão em mim), sim!
Porque é impossível ser feliz sem dignidade e totalmente subjugado. 


Ausência e Solidão

Nunca na minha história a ausência foi tão evidente.
Escondo, em vão, de mim esse peso pois apenas suspeito.
Camuflo, com sucesso, aos olhos dos outros o que me dói.
Sim, ausência é dor!
Uma dor que já me sujeitou (e sujeita) aos mais sujos papeis,
Às mais imorais poesias, e inconfessáveis desejos.
Antes era só lamento e queixa: “por que eu?”.
Hoje, julgando-me antigo (experiente),
Aprecio todos os pontos da ausência, minha “contemplação carinhosa da angústia”.
A ausência que me preenche, que me acompanha,
Que me direciona, ...e dorme comigo.
Ah, essa ausência é solidão;
Só pode ser solidão.
Qual sentimento outro se daria o trabalho de mim?
É...eu sou trabalho infindável, um desconforto mil,
Fonte de sentires antagônicos.


Jardim de flores amarelas

Sonhei há muito, com um jardim de flores amarelas
E com bancos de concreto a espera de mim.
Ainda penso nesse sonho de outrora,
Receando que já tenha acontecido,
Passado por mim, e ficado no passado.
Ponho a cabeça para fora de mim
E enxergo além dos dias cinzas
Em que a tristeza me rende,
Molhando meu rosto...
E posso projetar um sorriso
A despeito de todos os impedimentos,
Descontentamentos mil.
Embora seja antigo em mim
O jardim se mantém intacto
Para esperançar minha estrada,
Florir minha fatal jornada rumo ao nada,
Ao vazio do “ir para nunca mais”.
De onde não sei para não sei onde. Simplesmente ir.
Deixar-se ir por vontade para ver até onde vai
A força de uma vontade sincera.


Feito Bôbo

Hoje tô feito bôbo, relendo poesias velhas,
Poesias decíduas em meu duradouro outono.
Busco em vão (receio) vestígios de ti,
Um cheiro de tempo moído em alguma entrelinha,
Um prazer, fugidio que seja,
Uma oração sucinta.
E por mais que eu te lembre longe
Mais longe fico do que preciso ser,
E do que quero.
E o que eu quero?
Ser mais eu e comigo sempre.


Eu Vulnerável

Aqui estou eu vulnerável, vivendo provisoriamente
Como Bandeira em tuas mãos, nas mãos do vento,
Fazendo de minha poesia um pedido de socorro
Que não tenho coragem de pedir de outra forma.
E eu não sei em quais casas tem meu coração feito casa.
Perto de ti sou tão paradoxal:
Sinto-me mais forte e ao mesmo tempo indefeso,
Sem armas para lutar,
Sem disposição para ser livre,
Como nos tempos antes de você.


Arrependimento Eficaz

Nas minhas condições atuais de tristeza e medo,
Eu simplesmente me limito a cavar trincheiras
Buscando esconderijo eficaz,
Um arrependimento que valha uma virgula,
Que me abrace e se possível me beije o rosto.
E se hoje eu morrer de repente e lento,
Não se tratará de morte literal
Mas de um desaparecimento oportuno,
Um recolhimento sadio;
Pois apenas morre quem está vivo;
Sinto (desconfio) que jamais estive.
Sim, e agora que criei coragem o bastante
Desaparecerei de
vagar e por devagar de mais
Sobre minhas imperfeições, cismas e faltas.
Sim, e são tantas faltas, que a ausência me resume bem.
Afinal, sou a negação de tudo que me sabota
E me priva do bem que tanto estimo,
Do satisfazer-se com o calor do fogo e o cheiro de mulher.


Coração a Prova de Burla

Das desilusões que tive você foi a melhor, a que me fez mais forte e superar eternos conflitos e conhecer outros. Graças a você hoje vivo bem mais e mais livre me sinto; afinal, depois de você descobri a liberdade que eu nem imaginava que existia.
Hoje sou bem mais que íntimos alardes, buscas incessantes, desencontros mil. Passei, num passe de mágica, de desatento a morbidamente introvertido; de excessivamente risonho a triste. Mas de uma tristeza séria (ao pé da letra) e minimamente calculada; sim, na medida certa.
Ah!Graças a você, minha linda musa e perfeita algoz, agora tenho um coração fortificado, sitiado pela razão e pelo cuidado (que por mais que sobeje, é pouco).
E não mais me engano.

Minha Porto seguro!!

Senhora de senhores Quem dera fosse apenas um Porto ou um cais. Mas é Ela. Senhora de si, senhora de senhores, uma tirana, uma dominan...