terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tristeza Milenar

É incrível! Até hoje não acredito que você exista:
Você é vida e morte (tenho vontade de morrer e de viver).
Você me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.
Já morri diversas vezes mas depois de você morri muito mais:
Você mata muito mais que a guerra.
Resumindo: você é o suicídio que sempre eu adio.
Eu que sou o covarde por não saber planejar minha morte direito.
Deixe estar! Tudo é questão de tempo e oportunidade.


Salatiel Pereira

domingo, 28 de setembro de 2014

Existencial

Condenação


Estou condenado e certo disso. Sim, condenado a ser livre. Livre para te amar e esquecer tal intento. Preciso enfrentar o pesar dessa liberdade e suas implicações. Estou no mundo, nas mãos da contingência, a mercê de tudo: alegrias, choros, dores e alívios. E te querer já foi alívio (há muito) e hoje é dor por ser prisão no aguardo de execução. É uma indomável alternância de alegrias e choros, porque o sofrer e o posterior morrer de saudade, com tua falta, encobre o que há de bom em amar; não há quem abrevie esse suplício, ou cesse o jorrar dessa fonte do mais hábil e puro desprazer.
Em tal situação não me resta outro remédio que não seja esquecer. Ou deixar-me esquecido num quarto vazio (derradeiro aconchego suicida), de preferência escuro. Tudo para que essa escuridão se harmonize com as trevas em mim, a mais inconteste solidão.

Salatiel Pereira

sábado, 27 de setembro de 2014

Mendigo de Atenção

Estive a especular, e por isso, a torturar-me
Imaginando possibilidades mórbidas
Movidas a teimosia que confrontam meu censurar-me
Frente a histórias proibidas.

Sim, que jamais acabam bem;
Às vezes nem se quer tem final,
Apenas reticências para profanar o que se tem
De bom no amar e no amor ideal.

Se o encerramento de toda espera redundasse em cura
Estaria pronto para viver e ver o fim
Da afeição que mostrou-se mais pura.

Ela já foi nada, e hoje está assim...
Sendo tudo e me fazendo mendigar atenção,
Sem que eu ache se quer migalha espalhada no chão.

Salatiel Pereira

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Amor fugaz


Rendição

O que passou não passou de um sonho ruim,
Minutos mal contados
Pelas expectativas nascidas em mim
Pelos desejos, ao fracasso fadados.

Tentei a contragosto fugir
E encontrar consolo exato
A fim de espantar a necessidade de ir
Ao encontro do que já é de fato.

Então chorei, e nisso fui bem aventurado
Ao achar consolo eficaz,
Depois de ter desesperado;
Tendo que seguir em frente querendo olhar para traz.

Saí vitorioso: a vitória veio com minha rendição,
Ao que jamais perdeu, apenas faz perder
Em qualquer que seja a situação
De quem quer bem o viver.

Salatiel Pereira

Nau+frágio

Lugar onde tudo termina

Por muito tempo estive a pairar (navegar)
Em mares turbulentos
Como nau a deriva a continuar
Flutuando sem rumo e com vãos intentos.

Estive de amor ansioso,
Tão longe de mim e aflito.
Ao temer o futuro me pus medroso,
E entrincheirado num terno conflito.

Julguei-me forte ao encher-me de expectativa;
Aí então a frustração afundou-me
E me faltou alternativa.

Nesse mar vasto você olvidou-me;
Lugar onde todo amor naufraga
E tudo que sente de repente se estraga.

Salatiel Pereira

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Poesia Libertadora!

A Poesia Que Eu Te Fiz

Eu te fiz uma poesia libertadora
E nela pus teu nome nas entrelinhas.
Quiçá ela te traga conforto e amparo;
Ao menos uma ideia disso.
Eu te fiz uma poesia pequena,
Tão breve quanto despretensiosa,
Tão cheia de vida própria
Que já existia antes de colocá-la no papel.
Eu te fiz uma poesia por lembrar do teu cheiro,
Que te torna mais duradoura do que o previsto.
E por isso especulei coisas boas;
Esperanças que se auto mantém.

Salatiel Pereira

O Luxo de Amar!!

Porções Ilusórias de você

Demorei a entender que perdi;
Desperdicei tempo e amor
Que agora me fazem sentir
Saudade do que quase tive.
Digo "perdi" por força da perda
Porque jamais tive...
Aliás, tive apenas porções ilusórias de você,
Que, se antes era muito e transbordava-me,
Hoje mal posso chamar de resto.
Pois até a lembrança, que é o que normalmente sobra,
Com muito esforço de fé, posso dizer escassa.
Mas deixe estar, que já estou
Triste e contraditório:
Feliz por ao menos ter-me dado o luxo de amar.

Salatiel Pereira

A Revolução dos 2 Dias

Revolução

Foi como se o tempo tivesse só isso para fazer: mudar mil coisas de lugar em 48 horas. Foram dois dias ricos de momentos inusitados, proezas tais. Pareci Don Quixote, abrindo mão de um mundo em prol de outro, em busca de um prazer original e puro. Nos primeiros minutos de revolução descobri-me quase livre tentando entender a filosofia do dizer "A safadeza é um ladrão de cofres".

Salatiel Pereira

ImPeReCíveL!!

Coisas esquecidas

Um desejo veio se esconder aqui no meio de minhas coisas esquecidas. E não demorou para que eu o percebesse: tinha cor, cheiro e ruído próprio. A princípio, antes de notar suas características organolépticas, pensei se tratar de uma brincadeira do tempo, pois a muito tempo o passado não me confundia (acho que esse desejo é passado e deveria ser passageiro). Eu o deixei no seu devido lugar, mantive a calma, umas das poucas virtudes que consegui conservar e perceber. Logo me predispus a tirar tudo a limpo. Comecei a pôr a mão naquelas coisas que eu tinha como esquecidas a fim de espantar o fantasma da dúvida e combater o desejo. Mas duvidei que aquilo surtisse efeito, pois o desejo é implacável, imperecível, eterno: não morre, no máximo se camufla.

Salatiel Pereira

Inquietação da Espera!!

Prontidão

Quando acordares estarei de prontidão
Atento a ti, à espera do teu amor.
Que teu sono, por ora profundo,
Abrevie-se logo, de repente.
Que os teus olhos se abram para mim.
Pois quando nos olhamos só eu te vejo (penso);
Quando nos sorrimos só eu sinto (julgo).

Salatiel Pereira

Indícios do Teu Amor


Cofres Lacrados

Depois de mal ter feito minhas vontades,
Coloco-me de mãos e coração vazios
À disposição desse querer que é um mal me quer
E bem me quer distante.
Pois onde a distancia me alcança
Muito sofro e pouco me livro;
Muito me deixo, e aos poucos me vou.
Ainda que eu não tenha encontrado indícios do teu amor
Aguardo, sonho e empenho minha fé,
Pois é o que me resta.
Abro mão dos meus dias e noites (do viver),
Da minha valiosa juventude,
Do meu mais lindo e reconfortante poema
Que nem se quer fiz; Não existe conforto em amar.
Tudo por ansiar-te, cobiçar-te
Tal qual o lúcido a vida.

Salatiel Pereira

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ausência(s)!!!

Privação de você (dez de setembro)

Estarei consciente de que posso não mais te ter,
Se quer ao alcance da imaginação?
E em decorrência disso não mais a mim reconhecer,
Sofrer com ausência de chão.

Ao provar de você passei a viver
Mais feliz, livre e comigo em paz;
Vivendo de Haikais e de puro querer:
O que mais me satisfaz.

Não sei quais forças, de você, me privam
E transformam o bem em mal,
E de mim te arranca não sem ferir

E de fraquezas me fazer ruir;
Estando assim debilitado, por alguém, tal qual
Pele repleta de cortes, sem que estancar consigam.


Salatiel Pereira


terça-feira, 9 de setembro de 2014

DePoiS de VocÊ!

Vida pós você

Eu passei por você não como passei pela vida, deixando marcas e sendo marcado. Com você só eu fui marcado. E aos poucos vejo aumentar esse hiato entre nós, tais quais vogais fadadas a distância. Verdadeiros abismos que me matam diversas vezes e me atraem diversas vezes. Mas por ora não cederei ao desejo de auto aniquilar-me de amor e por amor. Não, não agora!
Deixe estar. Que o destino, alento urgente dos perdedores, reordene os acontecimentos e me mostre o que é a vida pós você; ou o que seja de fato viver. Ainda me dou o direito de relembrar, visto que a lembrança seja uma das coisas justas que me ficou.
Insisti o quanto pude, resisti ao máximo, neguei o prazer. Sim, fui censor de mim por ti, somente por ti. E por isso me pus a fazer mais poesias, tropeçar em palavras, construir mundos.
Mas as poesias jamais remediaram a situação, embora as fizesse para isso. Tudo porque desde o início você me foi força que me movia e que agora tudo paralisa, interdita meus reais esforços e vontades. Lentamente, as poesias foram surtindo efeito inverso, deixando-me mais ansioso e triste; e as poesias foram sendo derramadas tristes. É um “assim” sem fim; não consigo parar de escrever.
Não sei como se encerrará, conquanto deduza o que me aguarda. Mas por enquanto sigo cada vez mais sem ti e sem mim.

Salatiel Pereira

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Coleção de desejos!

Futuro curto de um longo desejar

Enquanto fico aqui, assim, deixando o tempo passar em vão, sem preenchê-lo com alguma coisa que valha o esforço de viver, peno por pensar de mais ou de menos. Seria mais simples, talvez, se não soubesse nem lembrasse de minha condição puramente humana, que se resume a empilhar expectativas na consciência, uma coleção de desejos.
A condição referida anteriormente me tornou um viciado em anestésicos morais: músicas (principalmente), textos e poemas. Aumento as doses conforme aumenta as dores de desejos não sanados. E por ser alta a exigência dos desejos, o efeito vai diminuindo cada vez mais seu alcance. Então, diminuo os passos do meu caminhar e permito que a tristeza me ache.
E o meu caminhar segue triste, sem rumo e sem previsões. Mas, mesmo assim continuo, pois parar significaria minha morte; e isso é o que menos quero (por enquanto).
Busco sentido em tudo, ou sinais que endossem meu itinerário, dê-lhe uma razão.




Salatiel Pereira

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Onde mora minha atenção!


Despedida


Desde a 1ª vez!


Nadas



O depois


Um pouquinho de eternidade


Dúvida


Distração


O tempo


Minha terra firme


Força que ninguém vê


O eterno invicto


Sintoma de ausência


Meu planeta


Fuga necessária


Em que me enquadro


Dias e dias


Pura distração


Uma e várias!


Apenas isso


Só história


O fim de mim


sexta-feira, 29 de agosto de 2014


Crueldade Verdadeira!

Crueldade


Cruel é aquela que dá adeus sem necessariamente ir em definitivo. Repete o gesto sem que este perca o peso de uma “primeira vez”. Quem está do lado de cá e compreende o sentido do adeus, retribui o gesto para que a vida continue e aconteça de vez a separação, e de fato se liberte. Mas retribuir um adeus não é concordar com ele; é simplesmente vê-lo e deixá-lo acontecer.

Salatiel Pereira
Leitura de poesia


Quem lê poesia, ainda que forçosamente, não o faz ao acaso como quem se distrai. Porque poesia é recurso utilizado pela alma que sente ou pensa em ausência, ainda que não se saiba qual, ou de quem. Quem lê vê em cada palavra um desabafo, então em pensamento se põe a desabafar, por enxergar detrás dos versos um poeta irmão e onisciente, que muito sabe de sentimentos sigilosos.

                                                                                                                                         Salatiel Pereira



terça-feira, 3 de junho de 2014

3 de junho

Quero sentir tua falta a todo instante, sem danos nem pesares.
Viver atravessado por lanças de solidão
Que me lembrem que de ti preciso,
Que só assim consigo viver.
Quero alimentar esse vício de te ter em versos ou na memória
Sem perder-me de vista nessa estrada vasta,
Sem desesperançar-me de amor
E da impossibilidade de ser tudo vão.
Parece que só eu envelheci!
O amor é cada vez mais forte
E você cada vez mais musa,
Intocável e impossível.
Meu Deus, onde plantei tanta crença
Pra colher tanta fé?
Teu amor é menos que suspeitas
E ainda assim me ponho de joelhos
A acreditar em minimas chances
Que riem de mim.


Salatiel Pereira

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dia dúbio

Quarta-feira de cinzas

Estou pleno em tristeza, eu me esvaziei de você
A muito custo e com muito pesar.
Estive a duvidar da minha vontade e disse "Cadê",
O desejo que sempre tive no amar?

Em te amar louco, com afã e veloz
Com tanta pressa de querer
Ver (ouvir) canção na tua voz
E totalmente desprezar o entender.

E tenho me estranhado
Andado tão vago e vazio
Longe, muito longe do meu normal estado.

Mas o dia já se vai lindo;
Levando consigo o tempo de estio
Enquanto eu já me vou indo.

Salatiel Pereira

sexta-feira, 21 de março de 2014


Fábrica de versos

O coração é feito fábrica de versos
Onde letras se aglutinam e viram palavras
Que anseiam por poemas de amores diversos
Que façam deles suas casas.
Cria-se rimas sem que esteja a sofrer
Prejuízos, perdas e desfavores, calado
Diante de versos fabricados sem morrer
De coração entreaberto em dores apertado.
Mas não só de jorrar versos vive o coração que ama;
Mas também de amar outro sem receios,
Nem ódio de quem só engana.
E deixando sempre que haja enleios
Fazendo poesias e de conta,
Que a fábrica perdurará ainda que haja afronta.

Salatiel Pereira


Saudade


Saudade não é termo que explique distância, muito menos separação. Porque saudade é distância que une, ainda que intransponível.

Salatiel Pereira

Medo é medo!


O medo de perder

O medo de perder, no amor, de nada vale e para nada serve. Pois no fim das contas, as contas já estão feitas: nada impede o que há de ser; tão certo quanto dois mais dois, e o “nada é pra sempre”.
No desfecho do que convencionamos chamar de vida, todos se vão e perdem a si mesmo pra morte.

Salatiel Pereira

Amores


Vontade doída

Não existe na terra vontade mais doída
Do que aquela por algum motivo não interrompida,
Que outrora no peito nasceu feliz
Muito antes que a dor fizesse raiz.

Não existe vontade doída que não perdure
Até que o amor próprio se veja esvaído,
Não havendo remediar que de todo cure
Um coração por outro esquecido.

Não existe vontade doída que entregue ao acaso não se enfraqueça,
Que ainda vencida não permaneça
Vencedora no pleito, absoluta na dor.

Porque a vontade segue doída e forte no desfavor,
Maculando um desejo engrandecido de amar,
Querendo ver-se livre da vontade, mas deixando muito a desejar.

Salatiel Pereira
Versinho do adeus

Gastei contigo o amor que tinha,
E o tempo que achei que fosse meu.
Só agora desconfio da pobreza dos teus gestos,
Das garantias que jamais existiram,
Dos dias que se foram, e que hoje são noites.
Desperdicei versos que mereciam
Outros fins e finais;
Que nasceram de verdade
E morreram como se fossem mentira.
Que o pesar do lamento derradeiro
Encerre em mim e aqui,
O que um dia comecei ao me declarar.

Salatiel Pereira
Um dia lembrarei

Um dia lembrarei
Quanto tempo durou o tempo que se foi,
Enquanto estive a vagar por lugares distantes.
E esquecerei do que deverei lembrar,
E lembrarei (a contragosto)ainda do que mais me dói.
Porque viver é sentir-se assim...
Um desencontro e um desacordo,
Desarranjo tal qual paixão não correspondida,
Que quase sempre trás privação.
Mas estarei pronto, e sempre inacabado,
Pois sempre serei passível de remendo
Como roupa nova que se torna velha,
Sem que se perca o apreço.

Salatiel Pereira

Desejo recorrente!

Sonho de uma poesia


Eu ainda sonho com uma poesia que me liberte e livre dos grilhões da melancolia. Com uma poesia que de todo me cure de certezas adquiridas na infância. Ela será constituída de versos que serão delírios de um existir feliz, a fim de que me acerte o passo em direção ao inusitado. Afinal, não estou a procurar métrica ou rimas, mas apenas chão que caiba meus pés por ora descalços. Ela será feita com paciência e em silêncio para que calmamente me faça tranquilo.

Salatiel Pereira
Ser poesia

Poesia é, antes de mais nada, confissão.
É abrir-se por completo, sem reservas
Com a mesma disposição de quem abre um livro e se põe a ler.
Poesia é um abster-se constantemente de si,
Incondicionalmente se expor;
Primeiramente a si mesmo e depois a quem quer que seja.
É um estar perto, mas a todo tempo desejando distância,
Irmã mais velha da saudade, prima da ausência.
Poesia é esperança criada em vão, é fé sem garantias de céu;
Um atirar-se cotidianamente nos braços da incerteza;
É atear fogo, incendiar e descobrir-se incendiado.

Salatiel Pereira
Sem mais o que amar

O amor que não se consuma
É terrível e ao mesmo tempo trágico,
De forma que não mais vivo por ela
Nem mais me arrisco em vão,
Pois em vão cheguei até aqui.
Sim, carregado fui por minhas ilusões,
Que me foram boas enquanto estive alheio
Às coisas que se fizeram de coisas e assim continuaram.

Salatiel Pereira
Se o amor bastasse

Se o amor bastasse
Não existiriam crimes passionais
Nem choro, nem vela,
Nem tantos desenlaces.
Se o amor bastasse
Jamais seriam necessárias certidões;
Seriam dispensáveis contratos,
E assinaturas que nunca deram nem darão garantias.
Mas se pelo menos ele se autobastasse,
As linhas escritas acima,
Seriam de todo desprezo e lixo.

Salatiel Pereira
Restos imortais

Falar do que restou quase sempre dói,
Porque sentimentos mil são represados a muito custo,
Quando não se tem força capaz de fazê-los partir
Sem que voltem vez por outra para doer mais e mais.

O que se foi não se vai jamais,
Nem morre com a distância que o tempo estabelece.
Antes se cristaliza, solidifica-se e se perpetua no peito;
Cria silêncios que ressoam silenciosamente pela eternidade.

Mas fez-se calmaria em tempestade nesses dias intermináveis,
Dias únicos, livres, soltos e aconchegáveis
Que atraem mais do que repelem
Diante do que faltou ou ficou por dizer.

O choro já não é fraqueza ou dor,
Nem solidão ou mágoa, buscas imprecisas,
Faltas ou ausências contínuas.
Mas um viver livre, poético, e apegado ao nada.

Salatiel Pereira
Ressaca moral

Amo-te com amor jamais sentido,
Pois depois de ti tudo em mim é novo,
Embora envelheça muito por tudo
Que deixei de viver.
E viver, o que é mesmo?
Não vive mais quem vive muito,
Mas quem muito se deleita,
E quem muito bebe
Dos prazeres simples.

Salatiel Pereira

Renovo urgente!

Receios

Receio é medo de perder o que talvez já tenha ido,
E ainda se presume perto.
As coisas são tão absolutamente relativas,
Que podem nem ter ameaçado ir,
Mas mesmo assim já terem ficado para trás.
Ter receio é inútil.
Tanto p’ra quem sofre por antecipação,
Quanto p’ra quem chora depois de tudo ter se consumado.
Receio é ameaça abstrata,
Inimigo invisível que cresce, se estabelece
E se mantém intacto e forte
A devastar, arrasar, totalmente destruir.
E receio que eu não entenda o que escrevo,
E o que realmente quero expor.
O que escrevo é reto,
Porém em papeis tortuosos,
Amassados pelo tempo.

Salatiel Pereira

terça-feira, 18 de março de 2014

Quase sempre

Quase sempre surge a pergunta,
Como se a pergunta tivesse um peso
Maior do que a própria resposta.
Se estás a envelhecer
É apenas desânimo.
Custa-se a acreditar que morrerá um dia,
(Quanta arrogância!)
A alma eternamente insatisfeita
Acha ser pouco até o que uma eternidade oferece.
Faz-se tudo pensando em possibilidades,
Em abraços abrangentes
Que tudo abarca e nada aconchega;
Que tudo sente e nada atinge.
Existem listas imaginárias e intermináveis
Dos planos traçados
Para chegar, ou ao menos desejar.


 Salatiel Pereira
Preparação

Preparam-se para vida e não para a morte,
Como se a morte fosse uma escolha.
Mas num dia leve, como outro qualquer
O fim há de acontecer.
Não há remédio que burle,
Nem vontade que regule
E nos impeça de ir.
De ir e continuar indo.

Salatiel Pereira
Pós morte

Não vivi muito, nem muito morri.
Simplesmente amei em demasia,
Sorri bastante, mas sofri muito mais.

Não me cansei de te querer,
Tão alucinadamente,
Tão louco.

Valeu o tempo que vivi,
Mas foi como se não tivesse,
Pois sem você morri em vida.

Continuo a viver morrendo de amores,
E a viver de dores,
Renascendo p’ra muito mais sentir.

Salatiel Pereira
Vale de lágrimas

Amar-te é um vale de lágrimas que não se encerra, nem se vislumbra o fim.
É ter-te em bases tremulas; odiar-me a mim.
Ah, quanto viver queria que abundasse
Nesses extremos de amor descabido, em que a vida passe.

Sim! Passe lenta ou livre, mas se vá de uma vez
Para que o amar seja certeza e não talvez,
Em meio a tamanha possibilidade
Que não se mostra clara perante o peso da idade.

Que o vale se esqueça das lágrimas
E seja somente verde e lindo
Compondo versos e rimas

Com esses pensares que se vão indo.
P’ra longe de mim ou de ti, mas que continue em mim
Sendo amor ou amizade decretando o fim.

 Salatiel Pereira
Passo após passo

Os passos que dou são dados ao léu,
Sem precisamente ter destino ou fim.
Percorro, ando, arrasto-me e continuo
Pois continuamente me encontro nesse “ir”.

Salatiel Pereira


Paixão reticente

Eu te amo com amor reticente que se vai p’ra sempre,
Com tamanha audácia e coragem,
Visto que escrevo com medo,
Isso que chamo de verso p’ra te lembrar,
E assim continuar a viver.
Trago comigo o vício do anonimato,
Que me silencia, castiga e faz penar.\
Querendo-te comigo, mas com cortes profundos
Por conta dos objetos pontiagudos,
Presentes em teus olhares perfurantes
E com tanta ambigüidade,
Imprecisão que decorre de tudo que és p’ra mim.
Amo tuas fotos que foram reveladas em minha memória,
Teu corpo, rosto, pele e cabelo
Que me são claros agora que se vão
Cansados da minha memória.
Amo-te, ainda que vás em direção ao nunca mais,
E nem se dê conta desse edifício que levantaste em mim,
Tão súbito e louco de angústias mil,
Com muito susto, suor e espera.
Quero-te ainda que seja tarde p’ra dizer,
P’ra te querer como uma poesia última,
Derradeiro sentir-se bem,
Livre no escrever sem pendências a resolver.
Perdi você pr’o tempo
Com inimizade, contrariedade e tristeza.
Mas não reluto, pois estou pronto como quem p’ra morte vai,
Sem remorsos, pesares ou dores;
Com muito ter o que contar,
Embora ainda sem desfecho feliz p’ra documentar.

Salatiel Pereira
Ordens do coração

Sei que não é apenas o sol que obedece a leis,
Pré estabelecidas há muito.
Estabeleci-me aqui e obedeço a leis de amor,
E me submeto às ordens do coração.
Corro mas nunca me afasto por completo
Porque tenho fugido do que me alimenta.
Como ser lúcido e determinado?
Como ter livre arbítrio?
Minha vontade é submissa,
É totalmente inconsciente.

Salatiel Pereira
Viver e nada mais

Viver é ser livre de si
Sem pesar nem penar
Que aborte o voluntário sorrir
E o alegre respirar.

Viver é não precisar ter aonde ir,
E não precisar de amor
Muito menos de paixão;
É ser e querer-se a si mesmo.

Viver é emancipar-se do mundo,
É manter-se alheio,
Anonimar-se cada vez mais
E cada vez mais estar em débito consigo.

É buscar o que jamais se encerra,
É desígnio alcançado,
É não se cansar,
É não abrir mão.



Salatiel Pereira
O amor de agora e sempre que se foi

Já te amei diversas vezes
E agora me repito mais uma vez.
Porque pareço folha de caderno,
Tão sujeito ao lápis quanto a borracha.
Esse amor com cara de recém chegado,
Que de si mesmo toma o lugar
Ainda ontem se apagou.
Se foi p’ra nunca mais,
P’ra longe de mim e de qualquer coerência.

Salatiel Pereira
O impossível existe

O impossível existe
Ainda que digam que a fé não precisa de milagres,
E que sem fé, por maior que seja o milagre, não há crença.
O impossível existe
Porque deus não é tirano
Muito menos capaz de obrigar a crer.
O impossível existe
Pois a mais pura verdade
É puramente corrupta.
O impossível existe
Porque o mundo é cão
E bem sabe que é.
O impossível existe
Porque há quem ouse
Confiar em (im)possibilidades.

Salatiel Pereira
Sustos e inquietações

Os sustos que surgem são só inquietações que acontecem para que se esteja mais atento ao porvir. E com tudo aprenda, na ansiedade e no desejo do que nunca será.

Salatiel Pereira


Amada

O choro contido

Amei-te desde a vez que te sonhei,
Linda e presente a todo instante;
Distante e perto, amante e antipatizante.
Enfim, amada.

Salatiel Pereira
O Caminho

O caminho é um só: aquele que você escolher;
Não existe o erro de ser o que se quer ser.
Ter escolha é o maior dom que se tem
Nesse mundo dos desmandos e do caos.
A vida aleatória não é vida,
Por isso viver é preciso, com fé e gratidão.

Salatiel Pereira
Calvário

Irei sobreviver ao caos que me impõe a dor,
Triste incômodo de viver sujeito
Ao sentir que ergue e rebaixa;
Também exalta e humilha.
O cansaço de escrever estancou meu vício
De poetizar pseudosofreres de amor.
A sobriedade não aclarou as idéias amigas;
E propôs que falar de amor é morrer de amor,
Porque viver enamorado e morrer de paixão são sinônimos.
Até as mais belas palavras se desfazem no ar,
E as boas músicas se tornam suplícios.
O litígio interior haveria de desfechar em crime?
Como, se tudo acontece à revelia de meu desejo?
Entregar-se ao horizonte próximo parece ser a solução,
Muito embora este fato anoiteça minha clareza;
O certo é que eu sucumbiria cedo ou tarde,
E alimentaria um desgosto.
Pois vencido e admitindo a derrota,
Faria tudo parecer passageiro
Para que o sofrer fosse menos sentido.
Não sei que diabos alimento
Para ser tão indeciso no/de amor,
E tão decidido no apego.
Tão incerto é meu gostar que confunde o desejo.
Tal quadro se configura triste e me faz assim,
Ser errante e exageradamente passional,
A ponto de adoecer de melancolia na ausência
De enfermeiras morais,
Parcialmente imaginárias e com diversas caras,
Com disposição infinda.

Salatiel Pereira

Dias e Dias

O mais abstrato dos sonhos

Tenho sonhado com uma abstração que me subtraia do tempo, e não mais me permita passar em branco. Quero ser de papel, poesia e prosa para ser maleável; sujeito e predicado com tudo de bom que me faça sorrir. Quero ser breve e dizer tudo o que é preciso para que não sobre remorsos pelo chão nem eu fique pelo caminho sem saber o que por mim passou.

Salatiel Pereira

segunda-feira, 17 de março de 2014

Nas entrelinhas da existência

Vem, amada minha! Minha liberdade agora está anunciada, mais viva do que nunca; estou livre para amar. Desfrutemos disso tudo que malmente sabemos o que é: se amor, paixão ou amizade.
Venha minha menina, que desligarei você dos receios fantasiados de prudência, e dar-te-ei fuga. Juntos construiremos nosso final feliz que certamente será lembrado, ainda que esteja apenas implícito nas entrelinhas da existência.

Salatiel Pereira

Minha Porto seguro!!

Senhora de senhores Quem dera fosse apenas um Porto ou um cais. Mas é Ela. Senhora de si, senhora de senhores, uma tirana, uma dominan...