Paixão reticente
Eu te amo com
amor reticente que se vai p’ra sempre,
Com tamanha
audácia e coragem,
Visto que
escrevo com medo,
Isso que chamo
de verso p’ra te lembrar,
E assim
continuar a viver.
Trago comigo o
vício do anonimato,
Que me silencia,
castiga e faz penar.\
Querendo-te
comigo, mas com cortes profundos
Por conta dos
objetos pontiagudos,
Presentes em
teus olhares perfurantes
E com tanta
ambigüidade,
Imprecisão que
decorre de tudo que és p’ra mim.
Amo tuas fotos
que foram reveladas em minha memória,
Teu corpo,
rosto, pele e cabelo
Que me são claros
agora que se vão
Cansados da
minha memória.
Amo-te, ainda
que vás em direção ao nunca mais,
E nem se dê
conta desse edifício que levantaste em mim,
Tão súbito e
louco de angústias mil,
Com muito susto,
suor e espera.
Quero-te ainda
que seja tarde p’ra dizer,
P’ra te querer
como uma poesia última,
Derradeiro
sentir-se bem,
Livre no
escrever sem pendências a resolver.
Perdi você pr’o
tempo
Com inimizade,
contrariedade e tristeza.
Mas não reluto,
pois estou pronto como quem p’ra morte vai,
Sem remorsos,
pesares ou dores;
Com muito ter o
que contar,
Embora ainda sem
desfecho feliz p’ra documentar.
Salatiel Pereira